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Na celebra��o da Paix�o do Senhor desta sexta-feira santa (18 de abril), o presidente da celebra��o, Pe. Wagner, comentou a homilia proferida pelo Frei Raniero Cantalamessa na celebra��o da Paix�o presidida pelo Papa Francisco na Bas�lica de S�o Pedro. Conforme havia sido exposto pelo Pe. Wagner, o Frei Raniero baseou sua reflex�o na figura de Judas. Ele explicou que Judas traiu Jesus por dinheiro, e destacou como os homens de hoje fazem o mesmo.
Leia na �ntegra a homilia do Frei Cantalamessa:
�Estava com eles tamb�m Judas, o traidor�
Dentro da hist�ria divino-humana da paix�o de Jesus existem muitas pequenas hist�rias de homens e de mulheres que entraram no raio da sua luz ou da sua sombra. A mais tr�gica delas � a de Judas Iscariotes. � um dos poucos fatos comprovados, com igual destaque, por todos os quatro Evangelhos e pelo resto do Novo Testamento. A primitiva comunidade crist� tem refletido muito sobre ele e n�s far�amos mal se n�o fiz�ssemos o mesmo. Ela tem muito a nos dizer.
Judas foi escolhido desde a primeira hora para ser um dos doze. Ao incluir o seu nome na lista dos ap�stolos o evangelista Lucas escreve �Judas Iscariotes, que se tornou� (egeneto) o tra�dor� (Lc 6, 16). Portanto, Judas n�o tinha nascido traidor e n�o o era quando foi escolhido por Jesus; tornou-se! Estamos diante de um dos dramas mais obscuros da liberdade humana. Por que se tornou? Em anos n�o distantes, quando estava de moda a tese do Jesus �revolucion�rio�, tentou-se dar a seu gesto motiva��es ideais. Algu�m viu no seu apelido �Iscariotes� uma deforma��o de �sicariota�, ou seja, pertencente ao grupo de zelotes extremistas que atuavam como �sic�rios� contra os romanos; outros pensaram que Judas estivesse desapontado com a maneira em que Jesus realizou a sua ideia do �reino de Deus� e que quisesse for�a-lo a agir no plano pol�tico contra os pag�os. � o Judas do famoso musical �Jesus Christ Superstar� e de outros espet�culos e novelas recentes. Um Judas muito semelhante a um outro c�lebre traidor do pr�prio benfeitor: Brutus, que matou J�lio C�sar para salvar a Rep�blica!
S�o reconstru��es que devem ser respeitadas quando cont�m alguma dignidade liter�ria ou art�stica, mas n�o t�m nenhuma base hist�rica. Os Evangelhos � as �nicas fontes confi�veis ??que temos sobre a personagem � falam de um motivo muito mais terra-terra: o dinheiro. Judas tinha a responsabilidade da bolsa comum do grupo; na ocasi�o da un��o em Bet�nia havia protestado contra o desperd�cio do perfume precioso derramado por Maria aos p�s de Jesus, n�o porque se preocupasse pelos pobres, assinala Jo�o, mas porque �era um ladr�o e, como tinha a bolsa, tirava o que se colocava dentro�(Jo 12, 6). A sua proposta aos chefes dos sacerdotes � expl�cita: �Quanto est�o dispostos a dar-me, se vo-lo entregar? E eles fixaram a soma de trinta moedas de prata� (Mt 26, 15).
Mas por que maravilhar-se desta explica��o e achar que ela � banal? N�o foi quase sempre assim na hist�ria e n�o � ainda assim hoje em dia? Mamona, o dinheiro, n�o � um dos muitos �dolos; � o �dolo por excel�ncia; literalmente, �o �dolo de metal fundido� (cf. Ex 34, 17). E se entende o motivo. Quem �, objetivamente, se n�o subjetivamente (ou seja, nos fatos, n�o nas inten��es), o verdadeiro inimigo, o rival de Deus, neste mundo? Satan�s? Mas nenhum homem decide servir, sem motivo, a Satan�s. Se o faz, � porque acredita que vai ter algum poder ou algum benef�cio temporal. Quem �, nos fatos, o outro patr�o, o anti-Deus, Jesus no-lo diz claramente: �Ningu�m pode servir a dois senhores: n�o podeis servir a Deus e a Mamona� (Mt 6, 24). O dinheiro � o �deus vis�vel[16]�, em oposi��o ao verdadeiro Deus que � invis�vel.
Mamona � o anti-Deus, porque cria um universo espiritual alternativo, muda o objeto das virtudes teologais. F�, esperan�a e caridade n�o s�o mais colocados em Deus, mas no dinheiro. Ocorre uma sinistra invers�o de todos os valores. �Tudo � poss�vel ao que cr�, diz a Escritura (Mc 9, 23); mas o mundo diz: �Tudo � poss�vel para quem tem dinheiro�. E, em certo sentido, todos os fatos parecem dar-lhe raz�o.
�O apego ao dinheiro � diz a Escritura � � a raiz de todos os males� (1 Tm 6,10). Por tr�s de todo o mal da nossa sociedade est� o dinheiro, ou pelo menos est� tamb�m o dinheiro. Esse � o Moloch de b�blica mem�ria, ao qual foram imolados jovens e crian�as (cf. Jer 32, 35), ou o deus Azteca, ao qual era preciso oferecer diariamente um certo n�mero de cora��es humanos. O que est� por tr�s do tr�fico de drogas que destr�i tantas vidas humanas, a explora��o da prostitui��o, o fen�meno das v�rias m�fias, a corrup��o pol�tica, a fabrica��o e comercializa��o de armas, e at� mesmo � coisa horr�vel de se dizer � a venda de �rg�os humanos removidos das crian�as? E a crise financeira que o mundo atravessou e que este pa�s ainda est� atravessando, n�o �, em grande parte, devida � �deplor�vel gan�ncia por dinheiro�, o auri sacra fames[17], de alguns poucos? Judas come�ou roubando um pouco de dinheiro da bolsa comum. Isso n�o diz nada para certos administradores do dinheiro p�blico?
Mas sem pensar nesses modos criminosos de ganhar dinheiro, por acaso, j� n�o � escandaloso que alguns percebam sal�rios e pens�es cem vezes maiores do que daqueles que trabalham nas suas casas, e que j� levantem a voz s� com a amea�a de ter que renunciar a algo, em vista de uma maior justi�a social?
Nos anos 70 e 80, para explicar, na It�lia, diante as imprevistas mudan�as pol�ticas, os jogos ocultos de poder, o terrorismo e os mist�rios de todo tipo que atormentava a conviv�ncia civil, foi-se afirmando a ideia, quase m�tica, da exist�ncia de um �grande Velho�: um personagem muito sagaz e poderoso que dos bastidores teria movido as fileiras de tudo, para finalidades somente conhecidas por ele. Este �grande Velho� existe realmente, n�o � um mito; chama-se Dinheiro!
Como todos os �dolos, o dinheiro � �falso e mentiroso�: promete a seguran�a e, em vez disso, a tira; promete a liberdade e, em disso, a destr�i. S�o Francisco de Assis descreve, com uma severidade incomum, o fim de uma pessoa que viveu somente para aumentar o seu �capital�. Aproxima-se a morte; chamam o sacerdote. Ele pergunta ao moribundo: �Queres o perd�o de todos os teus pecados?�, e ele responde que sim. E o sacerdote: �Est�s preparado para satisfazer os erros cometidos com os demais?�. E ele: �N�o posso�. �Por que n�o podes?�. �Porque j� deixei tudo nas m�os dos meus parentes e amigos�. E assim ele morre impenitente e, apenas morto, os parentes e amigos dizem entre si: �Maldita a sua alma! Podia ganhar mais e deixar-nos, e n�o o fez![18]�.
Quantas vezes, nestes tempos, tivemos que refletir naquele grito dirigido por Jesus ao rico da par�bola que tinha acumulado muitos bens e se sentia seguro pelo resto da vida: �Tolo, esta mesma noite a tua alma te ser� pedida; e o que tens acumulado, de quem ser�?� (Lc 12, 20). �Homens colocados em cargos de responsabilidade que n�o sabiam mais em qual banco ou para�so fiscal acumular os proventos da sua corrup��o encontraram-se no banco dos r�us, ou na cela de uma pris�o, justamente quando estavam pra dizer a si mesmos: �Agora goza, minha alma�. Para quem o fizeram? Valia a pena? Fizeram realmente o bem dos filhos e da fam�lia, ou do partido, se � isso que procuravam? Ou n�o acabaram destruindo a si mesmos e os demais? O deus dinheiro se encarrega de punir, ele mesmo, os seus adoradores.
A trai��o de Judas continua na hist�ria e o tra�do � sempre ele, Jesus. Judas vendeu o chefe, os seus seguidores vendem o seu corpo, porque os pobres s�o membros de Cristo. �Tudo aquilo que fizestes a um s� destes meus irm�os pequeninos, a mim o fizestes� (Mt 25, 40). Mas a trai��o de Judas n�o continua somente nos casos clamorosos aos quais me referi. Seria c�modo para n�s pensar assim, mas n�o � assim. Ficou famosa a homilia que pronunciou numa Quinta-feira Santa o padre Primo Mazzolari sobre �Nosso irm�o Judas�. �Deixem, dizia aos poucos paroquianos que tinha diante, que eu pense por um momento no Judas que tenho dentro de mim, no Judas que talvez voc�s tamb�m tenham dentro�.
� poss�vel trair Jesus tamb�m por outros tipos de recompensa que n�o sejam as trinta moedas de prata. Trai a Cristo quem trai a pr�pria esposa ou o pr�prio marido. Trai a Jesus o ministro de Deus infiel ao seu estado, ou que, em vez de apascentar o rebanho apascenta a si mesmo. Trai a Jesus quem trai a pr�pria consci�ncia. Posso tra�-lo at� mesmo eu, neste momento � e isso me faz tremer � se enquanto prego sobre Judas me preocupo pela aprova��o do audit�rio mais do que de participar da imensa pena do Salvador. Judas tinha um atenuante que n�s n�o temos. Ele n�o sabia quem era Jesus, considerava-o somente �um homem justo�; n�o sabia que era o Filho de Deus, n�s sim. Como a cada ano, na imin�ncia da P�scoa, quis reescutar a �Paix�o segundo S. Mateus� de Bach. H� um detalhe que cada vez me faz estremecer. No an�ncio da trai��o de Judas, ali, todos os ap�stolos perguntam a Jesus: �Porventura sou eu, Senhor?� Herr, bin ich�s?�. Antes, por�m, de fazer-nos ouvir a resposta de Cristo, anulando toda dist�ncia entre o evento e a sua comemora��o, o compositor insere um coro que come�a assim: �Sou eu, sou eu o traidor! Eu tenho que fazer penit�ncia!�, �Ich bin�s, ich sollte b��en�. Como todos os coros daquela obra, esse expressa os sentimentos do povo que escuta; � um convite tamb�m a n�s, de fazermos a nossa confiss�o de pecado.
O Evangelho descreve o fim horr�vel de Judas: �Judas, que o havia tra�do, vendo que Jesus tinha sido condenado, se arrependeu, e devolveu as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anci�os, dizendo: pequei, entregando-vos sangue inocente. Mas eles disseram: O que nos importa? O problema � seu. E ele, jogando as moedas no templo, partiu e foi enforcar-se� ( Mt 27 , 3-5). Mas n�o julguemos apressadamente. Jesus nunca abandonou a Judas e ningu�m sabe onde ele caiu quando se jogou da �rvore com a corda no pesco�o: se nas m�os de Satan�s ou naquelas de Deus. Quem pode dizer o que aconteceu na sua alma naqueles �ltimos instantes? �Amigo�, foi a �ltima palavra que Jesus lhe disse no horto e ele n�o podia t�-la esquecido, como n�o podia ter esquecido o seu olhar.
� verdade que, falando ao Pai dos seus disc�pulos, Jesus tinha falado de Judas: �Nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdi��o� (Jo 17, 12), mas aqui, como em tantos outros casos, ele fala na perspectiva do tempo, n�o da eternidade. Mesmo a outra palavra terr�vel referida a Judas: �Seria melhor para esse homem nunca ter nascido� (Mc 14, 21 ) � explicada pela enormidade do fato, sem a necessidade de se pensar em um erro eterno. O destino eterno da criatura � um segredo inviol�vel de Deus. A Igreja nos garante que um homem ou uma mulher proclamados santos est�o na bem-aventuran�a eterna; mas de ningu�m a Igreja sabe com certeza que esteja no inferno.
Dante Alighieri, que, na sua Divina Com�dia, coloca Judas nas profundezas do inferno, fala da convers�o, no �ltimo momento, de Manfred, filho de Federico II e rei da Sic�lia, que todos na sua �poca acreditavam que tinha sido condenado excomungado. Mortalmente ferido em batalha, ele confia ao poeta que, no �ltimo momento da vida, se arrependeu chorando �quele �que voluntariamente perdoa� e que do Purgat�rio envia para a terra esta mensagem que vale tamb�m para n�s: �Terr�veis foram os meus pecados, mas a bondade infinita com seus grandes bra�os sempre acolhe aquele que se arrepende�
� a isso que deve levar-nos a hist�ria do nosso irm�o Judas: a render-nos �quele que voluntariamente perdoa, a jogar-nos tamb�m n�s, nos grandes bra�os do crucifixo. A coisa mais importante na hist�ria de Judas n�o � a sua trai��o, mas a resposta que Jesus d� a ela. Ele sabia bem o que estava amadurecendo no cora��o do seu disc�pulo; mas n�o o exp�s, quis dar-lhe a chance at� o �ltimo momento de voltar atr�s, quase o protege. Sabe por que veio, mas n�o rejeita, no horto das oliveiras, o seu beijo g�lido e at� o chama de amigo (Mt 26, 50). Da mesma forma que procurou o rosto de Pedro depois de sua nega��o para dar-lhe o seu perd�o, ter� procurado tamb�m o de Judas em algum momento da sua via crucis! Quando da cruz reza: �Pais, perdoa-lhes, porque n�o sabem o que fazem� (Lc 23 , 34), n�o exclui certamente deles a Judas.
Ent�o, o que faremos, portanto, n�s? Quem seguiremos, Judas ou Pedro? Pedro teve remorso pelo que ele tinha feito, mas tamb�m Judas teve remorso, tanto que gritou: �Eu tra� sangue inocente!�, e devolveu as trinta moedas de prata. Onde est�, ent�o, a diferen�a? Em apenas uma coisa: Pedro teve confian�a na miseric�rdia de Cristo, Judas n�o! O maior pecado de Judas n�o foi ter tra�do Jesus, mas ter duvidado da sua miseric�rdia.
Se n�s o imitamos, quem mais quem menos, na trai��o, n�o o imitemos nesta sua falta de confian�a no perd�o. Existe um sacramento no qual � poss�vel fazer uma experi�ncia segura da miseric�rdia de Cristo: o sacramento da reconcilia��o. Como � belo este sacramento! � doce experimentar Jesus como mestre, como Senhor, mas ainda mais doce experiment�-lo como Redentor: como aquele que te tira para fora do abismo, como Pedro do mar, que te toca, como fez com o leproso, e te diz: �Eu quero, seja curado!� (Mt 8, 3).
A confiss�o nos permite experimentar em n�s o que a Igreja diz sobre o pecado de Ad�o no Exultet pascal: �� feliz culpa que mereceu tal Redentor!� Jesus sabe fazer de todas as culpas humanas, uma vez que nos tenhamos arrependido, �felizes culpas�, culpas que n�o s�o mais lembradas a n�o ser pela experi�ncia da miseric�rdia e pela ternura divina da qual foram ocasi�o!
Tenho um desejo para mim e para todos v�s, Vener�veis Padres, irm�os e irm�s: que na manh� da P�scoa possamos acordar e sentir ressoar no nosso cora��o as palavras de um grande convertido do nosso tempo, o poeta e dramaturgo Paul Claudel:
�Deus meu, ressuscitei e ainda estou com voc�!
Dormia e estava deitado como um morto na noite.
Deus disse: �Seja feita a luz� e eu despertei como se d� um grito!(�)
Meu Pai, que me gerou antes da aurora,
coloco-me na tua presen�a.
O meu cora��o est� livre e a minha boca est� limpa, o corpo e o esp�rito est�o de jejum.
Sou absolvido de todos os meus pecados
que confessei um por um.
O anel das n�pcias est� no meu dedo e o meu rosto est� limpo.
Sou como um ser inocente na gra�a
Que tu me concedestes�.
Isso � o que nos pode fazer a P�scoa de Cristo.

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